O novo livro infantojuvenil da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) é instigante da primeira à última página. A começar pelo título, Dagunda, palavra indecifrável e nunca antes pronunciada. Dagunda é gente? bicho? um lugar? Quem vai desvendar esse mistério é o escritor Carlos Gomes Oliveira, autor da história, ilustrada por Filipe Aca. O lançamento será no domingo (27/10), das 15h às 17h, na Fundação Gilberto Freyre, em Apipucos, Zona Norte do Recife, com a estreia de um filme–performance criado a partir dos textos do livro. A entrada é gratuita.
Dagunda, a estreia de Carlos Gomes Oliveira na literatura para crianças, tem sua origem num dos períodos mais sensíveis da nossa história recente, a pandemia de covid-19. Em novembro de 2020, ele foi convidado para passar a tarde com um casal de amigos e, ao chegar, viu a palavra Dagunda escrita numa parede da casa, em meio a rabiscos e desenhos criados pela família: Sereno, que balbuciava as primeiras falas; Rodrigo e Bruna, pais do bebê; e Camila, tia da criança.
“Quando olhei essa parede cheia de desenhos, feitos por muitas mãos, e ainda mais essa palavra, numa primeira vista, enigmática, brinquei com eles: ‘Tem uma história nessa parede, hein.’ Na mesma noite, de volta à minha casa, escrevi o texto de abertura do livro Dagunda, que permanece igual até hoje”, declara Carlos Gomes Oliveira. Com 64 páginas e três narrativas diferentes, o livro apresenta Dagunda com significados diversos, ora é um cão, ora é gente, ora é um lugar.
Como lugar, Dagunda é um brejo onde mora Pedro, a criança que pesca animais exóticos, ordenha vacas, joga bola e corre livre pelo mato. É também o paraíso de Ricardo III, o menino que não queria ser rei. Como bicho, Dagunda é um cão que “acorda vagarosamente, como se sentisse que o dia não teria muita graça” e corre com a cara pertinho do chão para “farejar a felicidade.” Como gente, é uma criança que “vive debaixo de uma grande árvore, a árvore dos frutos estranhos.”
Na vida real, “Dagunda era a tentativa de Sereno chamar pela mãe, Bruna”, esclarece Carlos Gomes Oliveira. Segundo ele, o livro é indicado para crianças de todas as faixas etárias. “Mas acredito que para as mais novas, abaixo dos 9 anos de idade, é preciso um acompanhamento na leitura, uma mediação que faça da leitura um diálogo entre texto, imagem e imaginação em torno dos muitos “Dagundas” das histórias”, observa.
“Espero que o livro desperte em quem leia o mesmo que despertou em mim, quando vi a palavra “Dagunda” escrita pela primeira vez, sabendo que nasceu da boca de uma criança, pelo desejo de amor, de carinho de uma criança, de falar o nome da mãe, e no contexto geral, da pandemia, de minha vida naquele momento, a vontade de partilhar o carinho que recebi naquela tarde, nesse caso, através da arte, da literatura, da poesia. Desejo que o livro gere muitas perguntas, muitas “o que pode ser Dagunda?”, afirma o autor.
O filme-performance é uma produção de Carlos Gomes Oliveira e das artistas Maju Cavalcanti e Larissa Veloso. A apresentação é feita a partir de uma seleção de imagens que Larissa montará ao vivo, enquanto o autor e Maju leem as histórias de Dagunda brincando com entonações, timbres, sussurros, ruídos e repetições de trechos específicos, explica.
Sobre os autores – Carlos Gomes Oliveira, formado em Letras, é pernambucano do Recife e aprendeu a ler ouvindo música. É poeta, músico, editor, pesquisador e autor dos livros exôdo (poesia, 2016, vencedor do Prêmio Pernambuco de Literatura), canções iluminadas de sol (ensaio, 2018), canções não (poesia-disco, 2019), nunca é triste um corpo que fala eu te amo (poesia, 2023), entre outros. Filipe Aca, recifense, é designer com atuação nas áreas de ilustração e editorial.
Serviço
O que: Lançamento de Dagunda, com apresentação de filme-espetáculo criado a partir dos textos do livro
Quando: 27 de outubro (domingo)
Hora: 15h às 17h
Onde: Fundação Gilberto Freyre (Rua Jorge Tasso Neto, s/n, Apipucos)
Preço: R$ 60 (impresso)
*Entrada gratuita