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Alece celebra a memória de Frei Tito de Alencar e sua luta pelos direitos humanos

15 de agosto de 2024

A sessão solene marcou os 50 anos da morte de Frei Tito de Alencar. Foto: Paulo Rocha

A Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece) realizou, na sexta-feira (09/08), sessão solene em alusão aos 50 anos de morte de Frei Tito de Alencar e o homenageou pela sua atuação na defesa dos direitos humanos no Brasil. A solenidade foi requerida pelos deputados Renato Roseno (Psol) e Larissa Gaspar (PT).

A deputada Larissa Gaspar afirmou que a solenidade é uma ocasião para lembrar de todo o trabalho, legado e luta de Frei Tito pelos direitos humanos e pela democracia. A parlamentar recordou a história de vida de Frei Tito, que foi perseguido, preso e torturado pela ditadura militar. Por consequências do sofrimento físico e psicológico sofrido nesse período, ele desistiu da vida, em Lyon, na França.

“Frei Tito, apesar de toda a dor que estava vivendo e sofrendo, nunca se curvou ao opressor. Nunca cedeu à pressão e à dor imposta pela ditadura e a tortura. Como ele mesmo disse, é preferível morrer a perder a vida”, pontuou a deputada vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Alece.

Frei Tito

Para a parlamentar, Frei Tito não é apenas uma vítima da ditadura, mas “um mártir da ditadura, um herói brasileiro, uma pessoa que resistiu a tudo isso para que hoje se possa exercer a liberdade de manifestação, de cobranças e de viver em uma democracia”.

“Embora a gente saiba que essa tortura ainda continua nos presídios, nas abordagens nas periferias, nos centros socioeducativos e em tantos outros espaços da nossa sociedade. Por isso, essa luta ainda não encerrou. Vivemos, sim, uma democracia, mas ela não é para todas e todos. Os direitos não são iguais e continuam a ser negados a uma parcela da nossa população. Por isso, precisamos continuar lutando para que os ideais plantados por Frei Tito nos inspirem a chegar a uma sociedade justa para todos”, observou Larissa Gaspar.

Deputado Renato Roseno é autor da proposição em homenagem a Frei Tito de Alencar. Foto: Paulo Rocha

Para o presidente do Escritório Frei Tito de Alencar (EFTA) da Alece e da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Casa, deputado Renato Roseno, é importante não esquecer que “agentes do Estado brasileiro”, na década de 1960, foram responsáveis pela tortura de Frei Tito, e até hoje não foram responsabilizados.

“Porque não houve memória, não houve acesso à verdade e nem à justiça. Celebrar o martírio de Frei Tito é lembrar que ele testemunhou, com sua própria vida, seu corpo e integridade, a violência, a covardia, a coerência e a força. Força que vinha de sua paixão. É dessa força e testemunho que temos que beber”, pontuou.

De acordo com Renato Roseno, “o testemunho de Frei Tito está no EFTA”, que atendeu, em 2023, 90 mil famílias que lutam por terra e território. “Que legado maior se não esse? Esse é um lugar de memória de Frei Tito, daqueles que abraçaram a luta dos direitos humanos. Esse é o testemunho dele, para que nunca se esqueça e nunca mais aconteça”, disse.

O presidente da Alece, deputado Evandro Leitão (PT), afirmou que o Parlamento cearense, além do reconhecimento, tem gratidão e respeito pela história de Frei Tito. “Aquele que deu sua vida por nós, que, com muita fé, coragem e senso de justiça, enfrentou a ditadura. Um exemplo de dignidade humana, de luta, de enfrentamento de injustiças, mas que sempre, em sua perseverança, lutou até seus últimos dias”, enfatizou.

O chefe do Legislativo destacou ainda o trabalho do Escritório Frei Tio de Alencar de Direitos Humanos da Alece e lembrou da inauguração da nova sede do Escritório, no último dia 5 de julho, no município do Crato, que deve atender o Cariri e regiões próximas. “Uma nova estrutura para que possamos acolher e fazer um acompanhamento jurídico daqueles que sofreram algum tipo de violência”, ressaltou.

A luta pelos direitos humanos e pelo fortalecimento da democracia, conforme o deputado De Assis Diniz (PT), não pode parar ou ser esquecida jamais. Tal objetivo, para ele, reforça que “há momentos na vida que não se pode esconder-se”. Segundo o parlamentar, o Brasil e o mundo passam por um momento em que esses princípios precisam ser preservados. “Temos que enfrentar, em toda fala e conduta, qualquer ameaça à democracia. A vida é plena e tem que ser vivida em abundância”, destacou.

Nildes Alencar, irmã do homenageado, relembrou a trajetória de Frei Titio de Alencar. Foto: Paulo Rocha

Memória

A senhora Nildes Alencar recebeu a homenagem alusiva aos 50 anos de morte do seu irmão. Ela falou do crescimento de Tito, a relação na família e sua iniciação na vida religiosa. “Éramos uma família de 11 filhos, muito engajada. Passamos muita pobreza e situações difíceis. Mas tudo isso dentro de uma amorosidade que formou dentro dele essas características que todos falaram aqui”, afirmou.

Nildes Alencar entregou ainda ao Pastor Henrique Vieira o livro “Morrer Para Viver – A Luta de Tito de Alencar Lima contra a Ditadura Brasileira”, de Ben Strik, com uma dedicatória da família do homenageado.

O deputado federal Pastor Henrique Vieira citou Frei Tito como referência vocacional em sua vida. Foto: Paulo Rocha

O Pastor Henrique Vieira (Psol), que é deputado federal pelo estado do Rio de Janeiro, falou da emoção de ter recebido o convite para a homenagem. Segundo ele, “Frei Tito sempre foi um farol” para sua vida, desde criança.

“Eu amo a vida de Frei Tito. Ele sempre foi para mim uma referência vocacional. Eu sinto saudades de alguém que eu não tive a oportunidade de conhecer. E é profundamente verdadeiro este sentimento. É como se ele fosse meu amigo. Sempre encontrei no Tito esse compromisso radical com a dignidade humana, com os pobres oprimidos e oprimidas do nosso povo. Essa fé profundamente engajada”, revelou.

A sensibilidade de Frei Tito ao sofrimento das pessoas, segundo o Pastor Henrique Vieira, fazia com que “ele que visse na dor do mundo o seu próprio mundo de dor”, ao mesmo tempo em que não via no silêncio uma opção, tendo se colocado ao lado da resistência em favor dos pobres e da democracia.

O parlamentar fluminense leu ainda uma poesia que escreveu para Frei Tito. Entre os trechos, ele escreveu: “Meu coração de menino amou a sua vida e, sem te conhecer, eu te conheci. Sua fé e sua paixão me fizeram sentir que, mesmo na sua ausência, você está aqui. Eu ouvi a sua viola, li com a alma a sua poesia. Sua vida é farol, horizonte e utopia. Você, Tito, viu Cristo na rua, no rosto do pobre e do oprimido. Quem te torturou caiu no vazio, mas você jamais será esquecido”, declamou.

Maria Luiza Fontenelle, ex-prefeita de Fortaleza, foi militante ao lado de Frei Tito de Alencar. Segundo ela, eles saíam da Igreja do Rosário, no Centro de Fortaleza, para os bairros da Capital, a pedido do padre Tarcísio Santiago, para olhar para os mais necessitados. Conforme ela, Tito, apesar das represálias do regime militar e das torturas, não perdeu a fé, a paixão pelo que fazia e “não deixou de ser um ser humano grandioso, solidário, afetivo e dedicado à luta por uma nova sociedade”, relatou.

“Como falar de Frei Tito sem falar em libertação, luta e esperança? Está dentro do nosso coração, que testemunhar Frei Tito é dizer que este mundo não é o que queremos viver. Este mundo de tanta destruição, barbárie, violência. É preciso lutar, porque não faz sentido viver com tanto sofrimento e falta de liberdade”, reiterou.

A mesa da solenidade reuniu ainda o deputado Missias Dias (PT-CE); o vereador de Fortaleza Gabriel Aguiar (Psol); o promotor de justiça Eneas Romero; a defensora pública geral do Ceará, Sâmia Costa Farias; o superintendente do Instituto do Desenvolvimento Agrário do Ceará (Idace), João Alfredo; o padre Ermanno Allegri, do Movimento Igreja em Saída; e a orientadora da Célula Memória, Verdade, Justiça e Reparação, da Secretaria dos Direitos Humanos do Ceará, Lúcia Rodrigues Alencar.

A sessão foi acompanhada por representantes de instituições que lutam pelos direitos humanos no Ceará, alunos da Escola Municipal Frei Tito de Alencar Lima, de Fortaleza, órgãos e por grupos da sociedade. A cantora Aparecida Silvino cantou o hino brasileiro e Eliane Brasileira interpretou o “Pai Nosso dos Mártires”.

Edição: Vandecy Dourado/al.ce.gov.br

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