Parte I
Ato 1
Ato, do latim Aptus, movimento, ação, atitude, atuação.
Movimento em forma de poema, como faca cortando o vento, impulso que rasga o ar, boca que grita, mão que não espera, pé que pisa o chão, corpo que não pede licença, pulso que pulsa até abrir a pedra.
Ação, verbo que explode no peito, corpos em luta, força que empurra o mundo, pensamento que ferve, resistência em carne.
Atitude na dança das horas e dos dias, o Ato não se dobra ao medo, carrega a história, faz e refaz, escreve, risca e grava o suor da persistência.
Atuação, vontade que não se cansa, sangue quente da rebeldia, semente no vento, é luta, é sonho, é resistência.
Ato 2
Ação de Educar, diálogo. Educar sem diálogo vira pedra. Educar não é afogar sob palavras de comando. Educar é desafogar, colocar pessoas em ação. Movimento à utopia, educar é fazer sonhar, ensinar a caminhar. Educar é atitude. Colocar as pessoas em movimento. Caminho que se faz ao caminhar rumo ao horizonte, que se afasta a cada novo passo. Educar é ensinar a caminhar. Isso é educar! Apontar sentidos, horizontes largos. Tornar o que está distante, próximo. Caminhar até encontrar:
O sonho,
A liberdade,
O futuro,
A bondade,
A curiosidade,
A sabedoria e a coragem.
Isso é educar!
Educar é promover diversidade, aceitar as tranças em modelo afro, os cabelos coloridos…
Lindos!
O jeito descontraído de ser adolescente, o riso leve da criança. Educar não é marcha militar, educar é caminhar sem medo, é acolher o diverso e promover a convergência. Educar é um ato de coragem e amor.
Ato 3
Educar é diferente do que se prega nos quarteis. Não é o olhar frio e cortante, fazendo a palma da mão se fechar. Não é Ordem Unida, marcha constante, isso não é educar.
Educar é animar, se divertir com o riso solto, leve, desajeitado. É Recreio nas Escolas, e nas Férias. É acolhimento, prazer em aprender, descoberta. Não é sufocar sob o grito de “ordem”, enrijecer soldados de chumbo, moldar marionetes da obediência. Não é marcha com passos alinhados, pensamentos podados e alma fardada.
Educar é sabedoria. Estudantes são rio e suas águas jamais são as mesmas. Puro movimento, fluido como água. Educar não é pregar o terror, as ameaças, o assédio de quem vigia o aluno e o professor.
– Não!
– Definitivamente, não!
Educar não é colocar viseira, nem marcha de quartel. Educar não se faz com Escola Cívico-Militar. Se quiserem educar, aprendam a educar, mudem de profissão, cursem universidade, aprendam a ensinar, façam magistério; comecem de novo. Suas ordens e disciplina são assédio. A elas dizemos:
– Escola não é quartel!
Aprender não rima com ordem militar. Escola Cívico-Militar não cabe na Constituição, não cabe na lei 9.394/96, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação. A violência de vocês não nos intimida. À violência de vocês, respondemos:
– Escola não é quartel!
– Voltem para a caserna, deixem nossos alunos em paz!
Ato 4
– Nós não temos medo de vocês!
A vida das professoras e professores do Brasil é difícil, dura. Mas feita com muito esmero. Somos gente dedicada que ama a arte de educar.
– Nós não temos medo de vocês!
Apesar de tantas mentiras, tantas manipulações, tantos descasos e desrespeitos, seguimos aqui. Há esperança. Há esperança porque estamos aqui, sempre estivemos e estaremos aqui.
Era uma vez nas escolas.
Esse tempo houve, esse tempo existe, o tempo de ensinar com amor, ciência e coragem. Nós, apesar de todas as dificuldades, professoras e professores do Brasil, sentamo-nos à frente da mesa e falamos de mundos e sonhos. Levantamo-nos e a voz de Paulo Freire ecoa: “- Educar é um ato de amor”.
É a nossa missão para salvar o nosso tempo da destruição.
Não é fácil, sabemos. Não era fácil, nunca foi fácil e nunca será fácil. Por isso seguimos aqui e não temos medo de vocês.
– Escola não é quartel!
Não desistimos, sempre estaremos nas Escolas, somos educadoras e educadores do Brasil. Tanta dureza, tanta descontinuidade, tanto descaso de quem governa (também de quem elege os governos e representantes, revelando descaso no ato de eleger).
Apesar de:
Carreira desrespeitada,
Precarizada,
Baixos salários,
Bibliotecas com livros desatualizados,
Falta de laboratórios (e quando há, falta de laboratórios bem equipados),
Escolas mal conservadas…
Seguimos firmes e dizemos:
– Escola não é quartel!
Falta muita coisa, até água em banheiro falta. Falta segurança no entorno da Escola, funcionários, manutenção, professores com estabilidade nas unidades de ensino, psicólogas e assistentes sociais…
Falta muita coisa:
Cultura e Arte, Esporte…
Falta tanta coisa, até papel higiênico falta. Só não nos falta coragem. Por isso afirmamos em alto e bom som:
– Escola não é quartel!
Nós não temos medo de vocês. Sabemos da maneira sórdida com que vocês agem, cheia de mentiras, manipulações e desrespeitos. Vocês não nos enganam, não vamos nos intimidar.
– Escola não é quartel!
Ato 5
Para descredibilizar o ato de educar disseram que a Escola era ideológica, com partido, doutrinadora. Atacaram a vida escolar e a pluralidade. Cheios de mentiras, vieram com a “Escola sem Partido”; no fundo, a mais partidária de todas as Escolas, a ideologia da Escola que quer dominar. Sob o nome “sem partido”, partidarizaram, ofenderam, agrediram e agridem. Atacam a liberdade de cátedra, o pluralismo de ideias, produzem cizânia, delações, intimidações, terror. Induziram e induzem alunos e pais a afrontarem professores, filmarem e acometerem os mestres.
– Que coisa feia!
Deturpam tudo com maldades, agem para desunir, doutrinar, reprimir.
Depois…
Depois vêm a farda a encher a Escola de comandos. Até que os alunos obedeçam sem questionar.
Depois…
A Escola ficará vazia, triste, em silêncio.
“-Aqui não se pensa! – Aqui se marcha!”
É a ordem da instrução fardada. Livros, antes abertos, agora censurados. Alunos cheios de vida,
agora armados de medo.
“-Aqui não se pensa! – Aqui se marcha!”
Até imporem novas lições:
“- Não pergunte, não leia, não duvide, não pense!”
Não sonhe.
Nós, mestras e mestres do Brasil, estamos aqui e não nos intimidaremos. Escola não é lugar para impor o medo. Educação não se faz com marcha, Educação se faz com pensamento, generosidade, coragem, inteligência e cultura.
Vocês não nos metem medo, nem vão controlar o pensamento.
– Basta!
– Deixem nossos alunos em paz!
– Tirem as botas das Escolas!
Nós não permitiremos que vocês arrombem os portões da Educação.
– Escola não é quartel!
Parem de pisar em nossos jardins.
Pátio escolar é para Recreio, encontro entre alunos.
– Não permitiremos que vocês arranquem as flores de nossos jardins!
Nem a voz de nossas gargantas.
(fim da primeira parte, em outra postagem publicarei a segunda parte)