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MINHA CONTA

VERBO-PROFESSOR (prosa-poética em dez Atos). Por Célio Turino

9 de novembro de 2024

Parte I

Ato 1

Ato, do latim Aptus, movimento, ação, atitude, atuação.

Movimento em forma de poema, como faca cortando o vento, impulso que rasga o ar, boca que grita, mão que não espera, pé que pisa o chão, corpo que não pede licença, pulso que pulsa até abrir a pedra.

Ação, verbo que explode no peito, corpos em luta, força que empurra o mundo, pensamento que ferve, resistência em carne.

Atitude na dança das horas e dos dias, o Ato não se dobra ao medo, carrega a história, faz e refaz, escreve, risca e grava o suor da persistência.

Atuação, vontade que não se cansa, sangue quente da rebeldia, semente no vento, é luta, é sonho, é resistência.

 

Ato 2

Ação de Educar, diálogo. Educar sem diálogo vira pedra. Educar não é afogar sob palavras de comando. Educar é desafogar, colocar pessoas em ação. Movimento à utopia, educar é fazer sonhar, ensinar a caminhar. Educar é atitude. Colocar as pessoas em movimento. Caminho que se faz ao caminhar rumo ao horizonte, que se afasta a cada novo passo. Educar é ensinar a caminhar. Isso é educar! Apontar sentidos, horizontes largos. Tornar o que está distante, próximo. Caminhar até encontrar:

O sonho,

A liberdade,

O futuro,

A bondade,

A curiosidade,

A sabedoria e a coragem.

Isso é educar!

Educar é promover diversidade, aceitar as tranças em modelo afro, os cabelos coloridos…

Lindos!

O jeito descontraído de ser adolescente, o riso leve da criança. Educar não é marcha militar, educar é caminhar sem medo, é acolher o diverso e promover a convergência. Educar é um ato de coragem e amor.

 

Ato 3

Educar é diferente do que se prega nos quarteis. Não é o olhar frio e cortante, fazendo a palma da mão se fechar. Não é Ordem Unida, marcha constante, isso não é educar.

Educar é animar, se divertir com o riso solto, leve, desajeitado. É Recreio nas Escolas, e nas Férias. É acolhimento, prazer em aprender, descoberta. Não é sufocar sob o grito de “ordem”, enrijecer soldados de chumbo, moldar marionetes da obediência. Não é marcha com passos alinhados, pensamentos podados e alma fardada.

Educar é sabedoria. Estudantes são rio e suas águas jamais são as mesmas. Puro movimento, fluido como água. Educar não é pregar o terror, as ameaças, o assédio de quem vigia o aluno e o professor.

– Não!

– Definitivamente, não!

Educar não é colocar viseira, nem marcha de quartel. Educar não se faz com Escola Cívico-Militar. Se quiserem educar, aprendam a educar, mudem de profissão, cursem universidade, aprendam a ensinar, façam magistério; comecem de novo. Suas ordens e disciplina são assédio. A elas dizemos:

– Escola não é quartel!

Aprender não rima com ordem militar. Escola Cívico-Militar não cabe na Constituição, não cabe na lei 9.394/96, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação. A violência de vocês não nos intimida. À violência de vocês, respondemos:

– Escola não é quartel!

– Voltem para a caserna, deixem nossos alunos em paz!

 

Ato 4

– Nós não temos medo de vocês!

A vida das professoras e professores do Brasil é difícil, dura. Mas feita com muito esmero. Somos gente dedicada que ama a arte de educar.

– Nós não temos medo de vocês!

Apesar de tantas mentiras, tantas manipulações, tantos descasos e desrespeitos, seguimos aqui. Há esperança. Há esperança porque estamos aqui, sempre estivemos e estaremos aqui.

Era uma vez nas escolas.

Esse tempo houve, esse tempo existe, o tempo de ensinar com amor, ciência e coragem. Nós, apesar de todas as dificuldades, professoras e professores do Brasil, sentamo-nos à frente da mesa e falamos de mundos e sonhos. Levantamo-nos e a voz de Paulo Freire ecoa: “- Educar é um ato de amor”.

É a nossa missão para salvar o nosso tempo da destruição.

Não é fácil, sabemos. Não era fácil, nunca foi fácil e nunca será fácil. Por isso seguimos aqui e não temos medo de vocês.

– Escola não é quartel!

Não desistimos, sempre estaremos nas Escolas, somos educadoras e educadores do Brasil. Tanta dureza, tanta descontinuidade, tanto descaso de quem governa (também de quem elege os governos e representantes, revelando descaso no ato de eleger).

Apesar de:

Carreira desrespeitada,

Precarizada,

Baixos salários,

Bibliotecas com livros desatualizados,

Falta de laboratórios (e quando há, falta de laboratórios bem equipados),

Escolas mal conservadas…

Seguimos firmes e dizemos:

– Escola não é quartel!

Falta muita coisa, até água em banheiro falta. Falta segurança no entorno da Escola, funcionários, manutenção, professores com estabilidade nas unidades de ensino, psicólogas e assistentes sociais…

Falta muita coisa:

Cultura e Arte, Esporte…

Falta tanta coisa, até papel higiênico falta. Só não nos falta coragem. Por isso afirmamos em alto e bom som:

– Escola não é quartel!

Nós não temos medo de vocês. Sabemos da maneira sórdida com que vocês agem, cheia de mentiras, manipulações e desrespeitos. Vocês não nos enganam, não vamos nos intimidar.

– Escola não é quartel!

 

Ato 5

Para descredibilizar o ato de educar disseram que a Escola era ideológica, com partido, doutrinadora. Atacaram a vida escolar e a pluralidade. Cheios de mentiras, vieram com a “Escola sem Partido”; no fundo, a mais partidária de todas as Escolas, a ideologia da Escola que quer dominar. Sob o nome “sem partido”, partidarizaram, ofenderam, agrediram e agridem. Atacam a liberdade de cátedra, o pluralismo de ideias, produzem cizânia, delações, intimidações, terror. Induziram e induzem alunos e pais a afrontarem professores, filmarem e acometerem os mestres.

– Que coisa feia!

Deturpam tudo com maldades, agem para desunir, doutrinar, reprimir.

Depois…

Depois vêm a farda a encher a Escola de comandos. Até que os alunos obedeçam sem questionar.

Depois…

A Escola ficará vazia, triste, em silêncio.

“-Aqui não se pensa! – Aqui se marcha!”

É a ordem da instrução fardada. Livros, antes abertos, agora censurados. Alunos cheios de vida,

agora armados de medo.

“-Aqui não se pensa! – Aqui se marcha!”

Até imporem novas lições:

“- Não pergunte, não leia, não duvide, não pense!”

Não sonhe.

Nós, mestras e mestres do Brasil, estamos aqui e não nos intimidaremos. Escola não é lugar para impor o medo. Educação não se faz com marcha, Educação se faz com pensamento, generosidade, coragem, inteligência e cultura.

Vocês não nos metem medo, nem vão controlar o pensamento.

– Basta!

– Deixem nossos alunos em paz!

– Tirem as botas das Escolas!

Nós não permitiremos que vocês arrombem os portões da Educação.

– Escola não é quartel!

Parem de pisar em nossos jardins.

Pátio escolar é para Recreio, encontro entre alunos.

– Não permitiremos que vocês arranquem as flores de nossos jardins!

Nem a voz de nossas gargantas.

 

(fim da primeira parte, em outra postagem publicarei a segunda parte)

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