Essa foto de 1957 de autoria de Paulo Santos, ano do centenário de Caruaru, clicada do mirante de Celso Galvão no Morro do Bom Jesus, registra em destaque a zona norte da cidade. Observa-se o Campo do Central, cuja entrada era pela Rua São Paulo, desde que nos primórdios do Bairro Maurício de Nassau – que já foi chamado de Bairro do Progresso e de Bairro Novo – não era possível o acesso pela Avenida Manoel de Freitas, pois o largo, no início da rua, na época das chuvas formava uma lagoa, conhecida como Lagoa da Porta. A Rádio Difusora, inaugurada no dia 6 de setembro de 1951 e a Casa de Saúde Bom Jesus, inaugurada no dia 15 de maio de 1955, também aparecem em destaques na foto.
Mas essa foto também registra, ao longe, um pouco a direita, a primitiva igrejinha da Natividade, construída pelas irmãs Marijó. Também é visto o cemitério Dom Bosco e um pouco mais a sua frente, uma cerca viva de aveloz, no limite da fazenda. Bem próximo a cerca passava um riacho (hoje um esgoto a céu aberto), que cruzava toda a extensão da fazenda, do bairro que adiante se formava, passava sob a linha do trem, descia pelas imediações do atual Espaço Cultural Tancredo Neves para após cruzar a Rua José Mariano, desaguar no Rio Ipojuca. Era um riacho intermitente, mas que se tornava caudaloso nas épocas chuvosas, chegando a interromper o tráfego de pessoas, animais e veículos na Rua José Mariano, no antigo “Caminho das Boiadas”, a qual, por esse motivo, era conhecida como Rua do Riachão, aliás um nome que terminaria por batizar o próprio bairro. Aproximadamente no ano do centenário, era um domingo, meu pai, o jornalista José Carlos Florêncio, me levou a uma visita àquela fazenda, onde me mostrou uma nascente d’água, no leito do riacho, no meio de umas pedras e mandou que eu provasse da água. Era sal puro, as águas da praia de Boa Viagem não eram mais salgadas, e me ensinou ”que era aquela nascente que dava nome ao riacho – Riacho Salgado – e ao bairro que já se formava em suas margens, o Bairro do Salgado”. Posteriormente, com a pavimentação da área, o lençol d’água secou e a nascente desapareceu. Seu local exato eu não lembro, quer pela grande transformação urbana da área, pela minha idade – na época eu era uma criança – e porque nunca mais voltei àquela nascente, Mas eu diria que seria no final da descida da Avenida João Cursino, para começo da subida para casa grande da fazenda das Irmãs Marijó. Ainda naquele domingo, me levou também na antiga estrada do Cedro, após passarmos pelo ponte sob aquele riacho, no cruzamento com a Rua José Mariano, e me mostrou um sobrado, cujo desenho de um artista caruaruense, publicado em uma das edições do Vanguarda, está reproduzido a seguir, e novamente ensinou: “Este sobrado, construído por volta do ano de 1820, ao contrário do que muitos pensam, que seria algum da Rua da Frente (Rua do Comércio), é o mais antigo de Caruaru”. O sobrado ficava à direita da rua, com os fundos para o Rio Ipojuca, todo construído em madeira, caibros, ripas e barro.