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Do caso Riocentro ao 08 de janeiro de 2023: dois momentos do histórico terrorista da extrema direita brasileira. por Fred Santiago*  

2 de abril de 2024

Invasão e depredação das sedes dos três poderes da república, ataques à delegacia da Polícia Federal, implantação de bombas em caminhões, agitação organizada e financiada para implantação do caos social, reuniões secretas para articulação de um golpe de Estado, montagem de acampamentos em frente aos quartéis e elaboração para minuta de decretação de Estado de Sítio. Esse cenário, que acumula acontecimentos ocorridos entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023, não foi um raio em dia de céu azul na história política brasileira. Muito pelo contrário! O golpismo e a violência política sempre estiveram presentes no histórico da extrema direita brasileira. Uma imensidão de exemplos podem ser apresentados. Mas, para efeitos de rememoração, vamos retomar apenas uma memória que marcou a trajetória da direita explosiva no Brasil: o Caso Riocentro.

No dia 30 de abril de 1981, agentes dos órgãos de repressão da ditadura militar se dirigiram ao Riocentro em Jacarápaguá no Rio de Janeiro. No local, haveria um show em comemoração ao Dia do Trabalhador, reunindo cerca de vinte mil pessoas. A missão do grupo era colocar duas bombas de alto poder destrutivo, sendo a primeira deixada na subestação de eletricidade do Riocentro e a outra próxima ao espaço de realização do show.

A intenção era atribuir falsamente o atentado à alguma organização de esquerda e, assim, dificultar o processo de abertura democrática. No entanto, a segunda bomba acabou explodindo no colo de um dos agentes da repressão, quando se aproximavam do local. O governo militar tentou de todas as formas proteger os envolvidos no atentado terrorista, como já havia feito em outras ocasiões. Porém, investigação realizada pelo Ministério Público Federal do Rio de Janeiro, muitos anos depois, identificou e denunciou os seis agentes da repressão envolvidos diretamente no atentado.

O coronel reformado Wilson Luiz Chaves Machado, vulgo “Dr. Marcos”, o ex-delegado Claudio Antonio Guerra e os generais reformados Nilton de Albuquerque Cerqueira e Newton Araujo de Oliveira e Cruz foram denunciados por homicídio doloso tentado (duplamente qualificado por motivo torpe e uso de explosivo), por associação criminosa armada e por transporte de explosivo. Newton Cruz foi denunciado ainda pelo crime de favorecimento pessoal. O general reformado Edson Sá Rocha, vulgo “Dr. Silvio”, foi denunciado por associação criminosa armada e o major reformado Divany Carvalho Barros, vulgo “Dr. Aureo”, por fraude processual.

O “caso Riocentro” não foi um ato isolado. Muito pelo contrário! Ao longo dos vinte e um anos de ditadura militar, grupos terrorista da extrema direita, com a complacência do governo, cometeram inúmeros atentados. Já no dia do golpe, primeiro de abril de 1964, a direita explosiva mostrou suas garras, incendiando o prédio da União Nacional dos Estudantes no RJ. Daí pra frente, foram bombas em redações de jornais, universidades, embaixadas e nas sedes da OAB e ABI.

Segundo documentos dos próprios órgãos de repressão, especificamente do Dops, foram mais de 300 atentados à bomba, até 1982. Em praticamente todos os casos, as autoridades foram coniventes com os terroristas. Tal fato, desmente uma das grandes mentiras históricas sobre a ditadura militar: qual seja? A ideia de que o governo ditatorial combatia o terrorismo. As evidências históricas demonstram exatamente o contrário: a ditadura militar praticou, promoveu e apoiou o terrorismo da direita explosiva.

Golpista e terrorista de ontem e de hoje, mostraram seu desprezo pela democracia, seja no Rio de Janeiro em abril de 1981 ou em Brasília no fatídico janeiro de 2024.

 

*Fred Santiago

Historiador e professor de filosofia

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Uma resposta

  1. Relação relevante; bem como os discursos “de ontem e de hoje” que não mudam em nada. Deixando, assim, um rastro, não só de destruição, mas de impedimento, para que essa nação venha a se tornar hegemônica, forte e protagonista.

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